quinta-feira, 8 de abril de 2010

HOTEL DESIGN NÃO FAZ MEU ESTILO

Maria insistia muito para que, em uma de nossas viagens rápidas pela Europa, a gente se hospedasse num hotel design. Eu sempre me recusei a tal aventura. Não gosto de pia quadrada nem de cadeira de papelão. Porém, Maria não é mulher de desistir facilmente e sempre voltava ao assunto com encantos e argumentos. Vamos lá, Quinzinho, força na peruca, se você não gostar a gente troca de hotel, dizia, com aquela vozinha que consegue tudo. Tive de aceitar o desafio. Há momentos em que é preciso fazer a corte. Não participei da escolha, deixei tudo a cargo dela. Me comprometi apenas a não ser implicante, a tolerar as diferenças e a tentar curtir a “experiência” nem que fosse como um antropólogo de férias.

Logo que chegamos na recepção do hotel design, tive o meu primeiro impacto. Achei a decoração muito gay. Não tenho preconceito, sou até meio chegado em usar um saltinho, frufrus e pó de arroz. Mas aquelas cortinas vermelhas que começavam no teto e se deitavam no chão como se fossem um véu de noiva, só faltavam dizer ui. Cabeças brancas de unicórnios enfeitavam o corredor de ponta a ponta. De resto, poucos objetos de desenho chamativo e alguns móveis de aspecto esquisito, nitidamente provocativos. Depois eu que sou cafona.

Uma música onipresente dava a impressão que uma festa estava por acontecer ou já estava em curso nas dependências do hotel. Para fazer os procedimentos de check-in, fomos encaminhados a duas cadeiras de plástico que parodiavam meu estilo, só que num tom de deboche.Comecei a me irritar e minha lombar a doer. Vendo minha contrariedade, Maria apressou-se
em dizer que aquelas cadeiras eram desenhadas pelo fulano de tal (ao que parece um Midas do design contemporâneo) e que custavam uma verdadeira fortuna, apesar de serem de plástico. Minhas costas não se impressionaram com a explicação.

Entramos no quarto e o bellman nos detalhou o funcionamento do mesmo. Nunca presto
atenção nessas explicações. Sei como se liga um interruptor e como se abre uma torneira.
Só que no hotel design é tudo diferente. O cursinho era necessário. Fiquei um bom tempo brigando com os registros, diga-se de passagens muito bonitos enquanto garfos, tentando temperar a água quente. A batalha com a iluminação não foi diferente. Os leds sensitivos, que funcionavam como um dimmer, eram muito sensitivos e estavam em depressão. Me contentei em dormir com um pouco de claridade.

Durante a madrugada precisei ir ao banheiro e não notei que a parede que o separava
do quarto não era de alvenaria e sim de vidro, por sinal,  excepcionalmente bem limpo. Maria  acordou assustada com o barulho do impacto. Tentamos chamar a recepção em busca de auxílio médico, mas o telefone com dispositivo de reconhecimento de voz não entendia os nossos gritos. Resolvemos então descer e buscar socorro ao vivo. No elevador, tocava a mesma música festiva de quando chegamos horas antes. Se era outra, soava muito parecida. Maria, sem graça e meio culpada, se requebrou um pouquinho e fez um comentário para quebrar o clima pesado:

- Adoro house.

Ao que completei:
- Eu também.